domingo, 13 de maio de 2012

Abusos sexuais do clero: dez anos depois

São passados dez anos sobre a eclosão, nos Estados Unidos da América, do escândalo do abuso sexual sobre crianças e adolescentes por parte de membros do clero, na sua maioria na segunda metade do séc. XX. A onda de denúncias de abusos semelhantes propagou-se, entretanto, a outras partes do mundo. O Vaticano e diversos episcopados, sob a égide do atual Papa, tomaram, na última década, medidas para lidar com estas situações e prevenir novos casos. Mas inúmeros aspetos se mantêm em aberto e muitas mais questões continuam sem ser afrontadas. Nesta sexta-feira, um conjunto de personalidades reuniu-se na Universidade de Santa Clara, na Califórnia, para uma espécie de ponto de situação. Intitulou-se a conferência “Clergy Sexual Abuse Ten Years Later”. Um dos conferencistas convidados foi o padre jesuita Thomas J. Reese, do Woodstock Theological Center em Georgetown e antigo diretor editorial da revista America. As notas que se seguem são extratos da sua conferência:
"Primeiro, acho que a igreja - e por igreja eu quero dizer tanto o clero como o povo de
Deus - precisa de re-equacionar a sua atitude para com os sobreviventes de abuso sexual. (...) [N]ão devemos olhar para as vítimas de abuso simplesmente como clientes ou problemas com que temos de lidar (...) precisamos de ver os sobreviventes de abuso como pessoas que podem ensinar-nos o que significa ser cristão, o que significa ser igreja. Ninguém que ouve as suas histórias pode deixar de ser tocado por eles. Isto significa que não podemos responder a cada nova vítima que surge com "Oh, não, mais outro!" Ao contrário, temos de vê-los como parte integrante da nossa comunidade, pessoas que devem ser acolhidas. Tal atitude encorajaria a igreja a chegar aos milhares de vítimas de abuso sexual que não se manifestaram. Queremos que eles se cheguem à frente, a igreja precisa deles". (...)

"Terceiro, nós ainda não temos um sistema orientado para a prestação de contas por parte dos bispos. É uma desgraça que só um bispo (o Cardeal Law) se tenha demitido por causa de sua incapacidade de lidar com a crise de abuso sexual. A igreja seria um lugar muito melhor, hoje, se 30 ou mais bispos se tivessem levantado, reconhecido os seus erros, assumido responsabilidades integrais, pedido desculpas e se tivessem demitido. É suposto que um pastor dê a vida pelas suas ovelhas; estes homens não estiveram dispostos a depor o báculo para o bem da igreja".
Os bispos também têm que estugar o passo e fiscalizar-se a si próprios. Eu sei que "à luz do Direito Canónico, só o papa pode julgar um bispo". Mas há muitas coisas que os bispos podem fazer, em todo o caso. Primeiro, devem falar e criticar publicamente aqueles bispos que não estão a seguir a 'carta' [com as normas a seguir relativamente a casos de abusos sexuais do clero, de 2002] ou que falham nas suas responsabilidades. Os bispos, incluindo, claro está, o presidente da conferência episcopal, devem poder dizer "Que vergonha, bispo, ponha a sua casa em ordem". Isto não é um julgamento canónico, é correção fraterna. O Vaticano também precisa de fazer a sua parte. Parece não ter qualquer problema quando se trata de investigar freiras e teólogos, mas investigar um bispo por má gestão não é uma prioridade. Um bispo pode ser rapidamente removido na Austrália por sugerir a necessidade de discutir o tema da ordenação das mulheres e de padres casados, mas já os bispos que falharam na gestão dos abusos sobre crianças não são removidos. Apenas o foram, em alguns cssos, na Irlanda por ação de um arcebispo corajoso e da pressão do primeiro-ministro e do governo.(...)"

"O problema hoje, na Igreja Católica, é que a sua hierarquia se centrou tanto na obediência e no controle que perdeu a capacidade de ser uma instituição de correção fraterna. A hierarquia ataca os teólogos criativos, investiga as religiosas, censura as publicações católicas convertendo a lealdade na virtude mais importante. Tais ações são justificadas pela hierarquia por causa do temor de "escandalizar os fiéis", quando na verdade foi a hierarquia que os escandalizou".


Ler o texto integral, em inglês, AQUI.

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