sexta-feira, 15 de junho de 2012

Ventos que sopram de Roma

Chamei aqui a atenção para o que se tem vindo a passar nas negociações entre Roma e a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, seguidora do cismático bispo Marcel Lefebvre. Hoje o Vaticano confirmou ter proposto a este grupo a plena integração eclesial sob a forma canónica de uma prelatura pessoal, a exemplo do que se verificou e verifica com o Opus Dei. Aparentemente, há ainda dificuldades internas à Fraternidade que, na gíria, 'está a procurar vender cara' a abertura do Papa Bento XVI.
As fontes católicas que acompanham esta matéria revelam, por estes dias, grandes cautelas no modo de noticiar este assunto. Algumas ainda chegam a sugerir que o gesto papel é "generoso", deixando sugerido que a mesma atitude não existe (ou se espera agora) do outro lado.
Veremos no que tudo isto dá.
A verdade é que não existem praticamente análises de contextualização e leitura crítica e menos ainda debate sobre uma matéria desta magnitude.
Não há muito tempo, contrariando a sugestão dos que reivindicam um novo concílio - o Vaticano III - gradas figuras da Igreja respondiam que essa pretensão era inoportuna, visto que faltava cumprir o Vaticano II. Pois agora, numa altura em que seria oportuno relançar a aplicação do espírito e da letra conciliares, vemos uma  atitude geral de retração e de tolerância doutrinal que não tem existido noutras situações e noutros contextos. O bispo Bernard Fellay é claro: "Não estamos de acordo doutrinalmente, no entanto, o Papa quer reconhecer-nos". Como é sabido, as duas matérias relevantes que os seguidores de Lefebvre repudiam do Vaticano II são a liberdade religiosa e o ecumenismo, duas matérias cruciais no modo de estar da Igreja no mundo contemporâneo. A mudança de atitude, que atribuem ao atual Papa, leva-os já a considerar que estes são "problemas secundários", em face daqueles que, esses sim, seriam "tremendamente importantes na Igreja de hoje". Resta saber quais serão eles.

[À margem:
É precisamente a liberdade religiosa - que seria "problema secundário" na orientação que lhe foi dada pelo Concílio, mas que é sentida como grave problema hoje, em várias partes do mundo - que vai levar o Episcopado dos Estados Unidos, com o apoio expresso que lhe acaba de chegar de Roma, via núncio apostólico, a lançar a partir da próxima semana e até 4 de Julho, dia da independência dos EUA,  uma vigorosa campanha contra a administração de Obama. Campanha que não pode escapar a uma leitura político-partidária, por decorrer em plena corrida eleitoral à presidência do país.
De resto, um sinal diverso mas de sentido globalmente convergente, pode observar-se em Itália, onde está na forja um partido católico de centro direita, com o aparente beneplácito da Conferência Episcopal Italiana. Mostra-o claramente o jornalista e vaticanólogo Paolo Rodari, num artigo hoje publicado no seu blog Palazzio Apostolico).

1 comentário:

maria disse...

Inquietações...