segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Uma oração universal e o regresso do sagrado após os atentados



Judeus, cristãos, budistas e hindus estiveram ontem na Mesquita Central de Lisboa, para um tempo de oração inter-religiosa promovido pela Comunidade Islâmica de Lisboa. O encontro terminou com os diversos representantes a rezar em conjunto uma oração universal:

Senhor, Tu és a fonte da vida e da paz;
Louvado seja o Teu Nome para sempre;
Sabemos que Tu orientas as nossas mentes para pensamentos de paz;
Ouve as nossas preces em tempos de crise;
O Teu poder transforma os nossos corações.

Os outrora inimigos começam a dialogar entre si;
Aqueles que estavam em desavença juntam as suas mãos em amizade e fraternidade;
Juntas, nações anseiam por caminhos de Paz.
Que Deus, Nosso Senhor, fortaleça a nossa determinação para dar testemunho destas verdades pela forma como vivemos, fortifique a nossa determinação para evidenciar estas verdades através das nossas acções.

Senhor dos mundos, Tu que és Criador do Universo e de toda a Humanidade, dos filhos de Abraão e de todos os outros homens e mulheres, qualquer que seja a sua fé e mesmo daqueles que não têm qualquer fé ou convicção religiosa,
Dai-nos:
Sabedoria para distinguir o bem do mal;
Compreensão para acabar com os conflitos;
Compaixão para apagar o ódio;
Perdão para superar a vingança;
Amor para compreender e amar o outro.
Faz com que todos os povos vivam de acordo com a Tua Lei do Amor.

Que Deus, beneficiente e misericordioso, nos guie a todos pelo bom caminho e nos ajude a edificar um mundo em que estejamos todos irmanados em Deus.


Uma reportagem fotográfica do acontecimento pode ser vista aquiE também no santuário do Cristo-rei decorreu uma oração pela paz no mundoque teve a participação de cerca de 300 pessoas.


Na crónica deste Domingo, no Público, frei Bento Domingues escreve sobre os atentados de Paris, com o título Dois pesos e duas medidas, não!:

O mais espantoso é o seguinte: investigada sob todos os aspectos, desde o começo do Concílio Vaticano II, a declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, encontrou tantos obstáculos que só foi aprovada a 7 de Dezembro de 1965, apenas um dia antes do seu encerramento por Paulo VI. Seremos capazes de imaginar, hoje, a Igreja Católica contra a liberdade religiosa? Dir-se-á que é um texto menor comparado com as grandes constituições do Concílio. Sem estas não teria sido possível, mas é esta breve declaração que constitui o contributo maior do catolicismo para o diálogo entre os povos e entre as religiões.
Enquanto os países de maioria islâmica não deixarem praticar, nos seus espaços, a liberdade religiosa que para si reivindicam, estão a exigir que entre os seres humanos haja dois pesos e duas medidas. É a desumanidade. Não é bonito.
(texto na íntegra aqui)


No semanário francês La Vie, Jean-Pierre Denis escreve sobre o regresso do sagrado após os massacres de Paris. 
“O imaginário das ‘cruzadas’ referido pelo Daech passou desapercebido aos comentadores franceses [e portugueses, poderia acrescentar-se]. O comunicado da organização terrorista é, no entanto, claro: Paris é a ‘capital das abominações e da perversão, aquela que leva a bandeira da cruz na Europa’. O totalitarismo islamita inculto com o qual estamos confrontados não tem senão um frágil conhecimento da história das relações entre Oriente e Ocidente.
(...) Mas os atentados de 13 de Novembro fizeram surgir igualmente um sagrado mais explícito. Não o notamos, mas em menos de um ano passámos, nas redes sociais, da expressão ‘Je suis Charlie’ a ‘Pray for Paris’. Ninguém decretou a amplitude deste tipo de manifestação, e gostaríamos de compreender quem as propõe e como elas se impõem.(...)
(Texto, em francês, na íntegra aqui)

Texto anterior no blogue
Violência nas religiões e o reino de Jesus - crónicas de Anselmo Borges e Vítor Gonçalves



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