domingo, 6 de março de 2016

Pais e filhos, histórias subversivas, eutanásia, Spotlight e dinheiro sujo

Crónicas

No seu comentário aos textos bíblicos da liturgia católica deste Domingo, Vítor Gonçalves escreve, sob o título Do Pai aos irmãos:

Não sabemos se o pai da parábola que Lucas nos narra era um bom educador. Mas sabemos que amava os seus filhos. Que pouco lhe interessavam os bens e as propriedades, a fama ou as honrarias, e tudo seria capaz de sacrificar por causa deles. Com que dor aceitou ser “morto” pelo filho mais novo quando lhe deu a parte da herança reclamada? Com que esperança suspirou pelo seu regresso? Com que alegria saiu ao seu encontro e deu início à festa? Com que dor descobriu a dureza de coração do filho mais velho? Com que humildade veio insistir com ele para acolher o irmão? Quem imagina Deus sentado no seu trono celeste a “ver o mundo passar” bem pode mudar de ideias, sob o risco de “inventar” um Deus que não é o Pai de Jesus Cristo!


Ilustração: Bernadette Lopez (Berna), 
reproduzida daqui

Na crónica de hoje, no Público, frei Bento Domingues toma também como pretexto a “parábola do filho pródigo”. Sob o título Um contador de histórias subversivas, escreve:

A parábola não ensina, dá que pensar. Liberta a imaginação. Não nos deixa acorrentados às religiões que herdámos. A fé cristã, ao proclamar, na Eucaristia dominical, a parábola do Filho Pródigo vem dizer: não estraguem o Domingo! É a festa das pessoas em processo de transformação. A Eucaristia - o Papa Francisco tem insistido muito neste ponto - não é um prémio, uma recompensa para os bem-comportados, segundo um código de moral convencional. É um convite para a festa, para a festa de Deus revelada nos gestos e nas palavras de Jesus.


Na crónica de ontem, no DN, Anselmo Borges escrevia sobre Os dois pais, a liberdade, Spotlight:

A Igreja Católica tem muitos e graves problemas para resolver, mas a questão da reconciliação sã com a sexualidade é fundamental. O título deste texto, aparentemente desconexo, tem um vínculo: o sexo. Se se dissesse claramente, sem receios, que Jesus é filho de José e de Maria, não haveria lugar para o cartaz. Também é sabido que a pedofilia não deriva necessariamente do celibato obrigatório. Mas a lei do celibato pode ser causa de sexualidades distorcidas. Porque é que a Igreja há-de impor como lei o que Jesus entregou à liberdade?


A atribuição do Óscar ao filme Spotlight era também o tema escolhido por Fernando Calado Rodrigues no dia 26 de Fevereiro, sob o título Pecados clericais:

Apesar de globalmente a atitude dos bispos se ter modificado muito na abordagem da pedofilia, ainda se nota alguma condescendência com outros comportamentos que também corrompem os clérigos. Estes, ainda que pareçam menos graves – como o carreirismo, o apego ao dinheiro, o plágio, a sobranceria ou a vaidade –têm merecido a condenação veemente do Papa.
(texto aqui na íntegra)



No dia 27 de Fevereiro, Anselmo Borges escrevia Sobre a eutanásia: perplexidades:

Despenalizar a eutanásia? Trata-se de uma questão civilizacional, e é preciso estar bem consciente dos perigos dramáticos e temíveis que se corre. (...) Não se aninha aí o risco de enormes equívocos na própria terminologia: "morte por compaixão", "mercy killing", "Gnadentod"? Precisamente porque é imisericordiosa, já que assenta no economicismo e no hedonismo, a nossa sociedade cada vez menos humanista, não tendo tempo nem solidariedade compassiva para com os mais fracos – os doentes graves e os moribundos –, atira-os para o que chama a "morte misericordiosa", a "morte por compaixão"? E o Estado fica com mais um encargo: dar a morte?


O debate sobre a eutanásia é também o tema da crónica de Paulo Terroso no Igreja e Média, sob o título Uma questão de vida ou de morte:

Nos próximos tempos, com o debate sobre a eutanásia e proximamente da barriga de aluguer (eufemisticamente denominada de maternidade de substituição), entre rasgar as vestes e gritar “blasfémia” ou intervenções a pedir desculpas porque Deus existe, há uma questão que se nos impõe: o que é que andamos a fazer nestes últimos 5 anos? Uma questão de vida ou de morte, como é fácil de entender.


Sexta-feira, no CM, Fernando Calado Rodrigues escrevia sobre Dinheiro sujo:

Na última audiência o Papa apontou o dedo aos que, para sossegarem a sua consciência pesada, fazem consideráveis doações à Igreja. Dinheiro manchado pelo “sangue de tanta gente explorada, maltratada, escravizada pelo trabalho mal pago”. A esses ele diz: “O Povo de Deus –quer dizer, a Igreja – não precisa do dinheiro sujo, precisa de corações abertos à misericórdia de Deus”. Ou seja, precisa de homens e de mulheres que aproveitem este Ano Jubilar da Misericórdia, se arrependam do seu proceder, acolham o perdão de Deus pelos seus atos e se aproximem do altar de “mãos purificadas, evitando o mal e praticando o bem e a justiça”.


A 20 de Fevereiro, Anselmo Borges escrevia sobre o encontro do Papa Francisco com o patriarca Cirilo, de Moscovo, o mesmo tema da crónica de frei Bento Domingues de 21 de Fevereiro. A viagem do Papa ao México foi ainda o tema da crónica de frei Bento Domingues de Domingo passado e também do artigo de Fernando Calado Rodrigues de dia 19 de Fevereiro

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